coisas da vida
E a necessidade de sair de casa começa a ser muita. Começa mesmo a ser essencial e necessária. Ter o meu espaçinho, não ter de dividi-lo com ninguém, não ter ninguém mil vezes ao dia a mexer e remexer nas minhas coisas, a vestir a minha roupa diariamente, a desaparecer-me com as coisas que compro e com as quais gasto do meu dinheiro. É, de facto, saturante e cansativo ter de ver, viver e (re)viver esta realidade todos os dias. Ter a nossa privacidade é algo que nos é inacto, nasce connosco. E... privacidade foi coisa que nunca tive, quando se divide a casa com a minha mãe (que acha que é tudo dela) e com a minha irmã (que coitadinha, é a mais nova, então é tudo para ela e é tudo dela, porque coitadinha, esteve doente mas já não está, mas vai ser sempre a doentinha que de doentinha não tem nada... odeio vitimas!). É cansativo tentar manter-me bem-disposta, é cansativo manter um sorriso na cara, é cansativo fazer de conta que não se passa nada. É difícil só o caminhar ou o conduzir para casa. É desmotivante chegar-se a casa, é triste chegar a casa, porque a casa não é nossa, não tenho o meu espaço, o espaço não é meu, é de todos as minhas coisas não podem descansar durante o dia. Não posso sair descansada de manhã porque sei que à noite, ou à tarde quando chegar, nada vai estar igual. E é ainda mais desgastante saber que não podes fazer nada, porque são duas contra uma e, são 24 anos. Uma idade que me pede a minha privacidade, o meu espaço, as minhas coisas. Ando a atrofiar com isto, choro muitas vezes, ando completamente irritada com tudo e com todos.
Então, diariamente, com o pensamento nisto, sonho e tento lutar para ter o meu espaço e, as minhas coisas.Constroí-se um sonho. Um sonho que tenho desde sempre. Porque deve ser da idade, que também ajuda a não gostar de partilhar, ou a partilhar com respeito, coisa que aqui não se faz, mas sempre fui assim, porque nunca pude ter nada meu. E anseio o dia que possa ter o meu espaço, talvez o nosso, o meu e o dele, onde possamos reunir os nossos trapinhos e ser muito felizes!
E o quanto me custa sentir isto tudo... Ninguém imagina! É porque eu adoro a minha casa, sempre fui das duas a mais afeiçoada e ligada a casa e, continua a ser assim! É uma autêntica luta diária tentar lutar contra a minha própria personalidade.