O que não nos contam sobre o pós-parto
É como na gravidez, contam-nos muita coisa, e outras tantas tão importantes ficam por contar. Cada experiência é uma experiência é lógico, cada bebé é um bebé, cada mãe é uma mãe, mas gostava de ter sabido algumas coisas para me preparar de forma diferente.
Tive um pós-parto muito tranquilo, um pós-parto imediato quero dizer. Controlei-me muito para me manter sã, quis logo sair de casa, consultas, almoçar à sogra, receber visitas. Sou uma pessoa que precisa muito de apanhar ar e ver a luz do dia, andar ao ar livre, tomar um café e ver o mar, e o verão de 2022 foi muito sufocante. Já o sabia de antemão, o F. estava previsto nascer em inícios de julho, nasceu em finais de junho, tudo o que fosse noites quentes de verão, praia, cafezinho de final do dia iria ser muito diferente, mas na minha ideia esses momentos podiam existir com os devidos cuidados. Senti falta do Verão confesso, foram uns meses complicados. Senti falta de ver o mar, o pôr-do-sol, da esplanada, do calor e do ar puro. Acho que ter ficado em casa dos meus pais que não ajudou neste processo, o ter-me habituado a ter companhia para tudo (porque a minha mãe esteve de férias) fez-me acomodar para sair sozinha com um bebé.
Para mim, o período crítico no pós-parto imediato veio com a primeira mastite ao fim do primeiro mês, com uma infeção uterina logo a seguir e com fissuras nos mamilos ao mesmo tempo. Isso abanou-me um bocadinho. Quando dei pela mastite resolvida senti-me renovada, porque a recuperação da cesariana até foi tranquila.
O F. sempre foi um bebé muito calmo, de dormir bem e muito tempo seguido. Lembro-me de nas primeiras semanas nenhuma visita o ver com os olhos abertos e mesmo para lhe tirar fotos com os olhos abertos era difícil. Teve algumas passagens de cólicas, tivemos noites agitadas, mas foram duas semanas, descobrimos os segredos dele e lá conseguimos seguir o caminho. Muito babywearing, muita maminha e muito colinho, ele dormia horas seguidas em cima de nós e que bom que foi. Dormia ele e eu adormecia com ele, recuperei muitas horinhas de sono assim. Diria que a nível de sono os primeiros quatro meses foram relativamente fáceis, o pior começou depois. Entre os 2 e os 4 meses ele dormia praticamente a noite inteira, não acordava sequer para comer. A chegar os 4 meses teve a primeira bronquiolite e descambou tudo. Somou a isto a regressão normal dos 4 meses e medicação que tinha de ser dada de madrugada. A partir dali nunca mais conseguimos que ele dormisse a noite toda e, na mesma altura, regressei ao trabalho e ficou o pai de licença. A solução que encontramos foi pedir para ficar em teletrabalho, ir esporadicamente à empresa, e sempre consigo descansar mais alguma coisa.
Ninguém me contou que amamentar em exclusivo é a melhor coisa do mundo, mas a mais difícil também, pela disponibilidade que precisamos ter. Precisei descomplicar muita coisa na minha vida para poder amamentar sem preocupações. Ainda assim, apesar de sempre ter querido muito amamentar, para mim o melhor começou por volta dos 4 meses, quando eles começam a reconhecer-nos e a sentir o cheiro, e andam à nossa procura com as mãos. Essa ligação continua até hoje (vamos quase em 7 meses!) e é deliciosa. Ninguém me preparou para isso. Tem sido um caminho bonito, mas duro. Já ponderei muitas vezes, acho que todos os dias, comprar leite de fórmula, mas lá vamos seguindo caminho sem arrependimentos, e enquanto me for possível, estarei de maminha ao léu.
Ninguém nos contou que as outras pessoas, família e amigos, criam expetativas sobre o nosso filho e sobre nós como pais. Porque raio temos de criar expectativas da forma como vamos lidar com os filhos dos outros, seja neto, afilhado, sobrinho, enteado, o que for. Essa tem sido uma luta diária, precisamos de encontrar o nosso equilíbrio.
Ninguém me contou que ia ser tão bom que chega a doer só de olhar para ele. Que de um momento para o outro as nossas prioridades mudam e que movemos montanhas para os ver bem e felizes.
A minha jornada da maternidade continua noutros capítulos, conforme o senhor meu filho autorize, porque agora é ele que manda.
(algures no pinterest mas nunca fez tanto sentido)