Estávamos a falar de férias com um amigo e ele estava a comentar connosco que as férias em casal é a melhor forma de as duas pessoas se conhecerem, de conhecerem habitos e rotinas, manias e traumas. Concordo plenamente, férias servem para isso e muito mais, tanto eu como o L. concordamos com isso, apesar de não termos ido de férias assim tantas vezes quanto isso.
No meio da conversa, pergunto-lhe descaradamente, apesar de aqui só para nós, já estava a contar com a resposta, mas quis perguntar-lhe o que, afinal, descobriu sobre mim que já não soubesse. A primeira vez que fomos de férias já namorávamos há dois anos, apesar de já termos ido passear muitas vezes, férias no seu verdadeiro sentido nunca tinhamos feito.
A resposta dele foi muito simples, depois de se rir um bocadinho com a minha pergunta:
- Que pergunta fácil! Tu já me tinhas dito muito vezes mas até ver não me acreditava. - riu-se novamente - Tu adormeces em qualquer sitío, consegues ser pior que os bebés e as crianças. - desta vez, ri-me porque, como disse, já esperava a resposta - Tu dormes de pé, nas escadas, num banco de jardim, numa mesa de café, em qualquer lado! E se eu não estiver atento, continuo a andar e tu ali ficas! Ah e mais, consegues dormir mais que eu, o que me choca mesmo porque é muito dificil e ainda dormes muito melhor que eu porque desmaias literalmente.
Isto não é totalmente verdade, quer dizer, talvez seja grande parte. Quando fomos a Madrid estava TÃO cansada (escolhi mal o calçado) que adormecia em qualquer lugar. Tenho umas histórias engraçadas neste sentido para contar sobre esta viagem. E rimo-nos sempre imenso quando nos lembrámos de alguma, principalmente quando adormeci durante um concerto que vimos nessa viagem.
O amor também é isto, rirmo-nos destes momentos, que no momento não têm muita piada, mas que são histórias!
E por mim ia já de férias amanhã... com um calçado confortável, aprendi a lição em Madrid.
Um destes dias, depois de me despedir do L. com alguns beijinhos, uma amiga, que já não nos via há algum tempo, estranhou aquela atitude e brincou “Ai, tanto amor!”. Tenho-vos a dizer que fico nas horas com estas brincadeiras, mas depois entendi. Ele lá foi trabalhar e quando fiquei sozinha com ela, envergonhada lá perguntou “Isso ainda é tudo amor? Ainda estão apaixonados?” Limitei-me a anuir com a cabeça, porque não gosto muito de falar sobre isso, e ri-me envergonhada. Achei estranha aquela situação, aquela pergunta, mas ela ainda desconfiou e voltou a perguntar “Estás a brincar ou estás mesmo?”. Ela não percebeu - pensei - e voltei a sublinhar, num tom mais duro e confiante “sim, estou, estamos!”.
Estou mesmo, não estou em tom de brincadeira. Podemos ter os maiores problemas do mundo, discutir e amuar muitas vezes, chorar também faz parte, nem sempre corre tudo de feição. Não são sempre beijinhos, abraços, sorrisos, gargalhadas, chocolates e morangos, mas é a maior fatia do bolo. Aliás, as desavenças que, normalmente, temos resumem-se, sempre, a qual das casas vamos almoçar, jantar, lanchar. É sempre relacionado com isso.
E até não somos muito parecidos, só somos parecidos no gosto por dormir, acho que o maior passo está dado. Temos sempre opiniões diferentes sobre tudo, andamos sempre às turras, mas sou completamente apaixonada por aquele ser-humano. Namoramos há quase três anos, mas parece que foi ontem. Sinto-me como no primeiro dia e as pessoas acham isso estranho. Não o acho e não o sinto, faço questão de o mostrar e de o dizer todos dias. Demonstro-o intuitivamente, com uma mensagem, com uma chamada, com um “amo-te” ou com algum dos nossos insultos. Faço questão de lhe mostrar isso diariamente para que nunca se apague esta chama que acho tão bonita e tão saudável. E às vezes parece mentira, parece um sonho tornado realidade. Mas, não acho que seja um sonho, uma relação constrói-se, vão-se dando pequeno passinhos e cada um colhe esses pequenos passos.
As pessoas estranham isso. As partes constroem a relação, não tenho dúvidas nenhumas disso. E cada vez acredito mais que o amor é uma planta que se rega. Se lhe deres atenção todos os dias, ela é a flor mais bonita do teu jardim. Se só te lembrares dela de vez em quando ela murcha. E se te esqueceres dela… ela morre.
Fico triste quando reparo que as pessoas não acreditam no amor dos outros, porque também desacreditei durante muito tempo. O meu bateu à minha porta e sei que é ele, e acho que foi sorte, mas independentemente de sorte, vamos construindo uma relação todos os dias. Todos os dias são dias de cultivar amor.
Vá, esta não é minha, mas achei tão caricato que tinha de a partilhar.
Os meus pais são casados há 27 anos e, até hoje, mantém um casamento relativamente feliz. Têm personalidades completamente distintas que se completam entre si. A minha mãe fala por ela e por toda a gente, adora a casa cheia, adora miúdos (não fosse ela professora primária), adora passear, brincar e tem sempre energia (para dar e vender), não fosse a maior stressada que. Todos os dias se queixa de alguma coisa, ou é a cabeça, ou é a coluna ou qualquer outra coisa, mas está sempre pronta a rir-se um bocadinho e a tagarelar mais um bocadinho. O meu pai não. É das pessoas mais caladas e pacatas que conheço. Uns bons serões em casa, no sofá a ver televisão, enchem-lhe os dias. Adora ver AXN, FOX, filmes, programas estranhos da MTV. Por ele nunca sai de casa, só para ir de férias e é certo que tem de ter piscina, se não existir piscina ele vai contrariado. Em contrapartida, é muito observador. Lá se vão entendendo à maneira deles, uns dias melhores, outros dias piores como todos os casais. Mas são um exemplo para quem os conhece. Não vão a lado nenhum um sem o outro. Se é para ir às compras esperasse por ele, se é para ir ao cinema ele tem de ir, se vamos jantar fora esperamos uns pelos outros.
A rotina diária e semanal é tanta em minha casa, que no fim de jantar ou de almoçar os lugares que ocupamos já são mais que certos. Eu e a minha irmã refugiamo-nos nossos quartos, a minha mãe vai para o quarto deles ver televisão e ele ocupa o sofá para ver os programas deles. A minha mãe adora ver novelas e programas mais levezinhos, ele adora ver policiais e programas desse estilo, pelo que é impensável ocuparem o mesmo espaço para ver televisão.
Um dia destes, no fim de jantar, o L. estava lá em casa, e estávamos os dois no meu quarto quando começamos a ouvir os dois a discutir. Inicialmente não percebemos bem do que se tratava, mas lá se começou a ouvir, porque a porta do quarto deles encontrava-se aberta, e como os nossos quartos são ao lado um do outro, se as portas estiverem abertas ouve-se tudo.
Então lá estavam os dois:
(Mãe) – O que vieste para aqui fazer hoje?
(Pai) – Olha não me apeteceu ficar na sala, sou sempre eu a ficar na sala!
M- Mas este sitio é o meu. Tu ficas na sala a ver o que gostas.
P- Mas hoje apeteceu-me. As miúdas podem querer ir ver televisão, que também têm direito, e eu vim para o meu quarto ver televisão.
M- Mas, então, vais ver a novela que eu quero, que isto não é assim. Não vou perder o episódio da novela só porque hoje quiseste vir para aqui.
(…)
Lá continuaram naquilo e eu ouvia a minha mãe a rir-se, como quem estava a fazer de propósito para o irritar, mas que o mais queria era que ele ficasse ali.
O L. ria-se e olhava para mim e eu ri-me e olhei para ele, ao que lhe disse “Bem, vê se vais aprendendo alguma coisa, porque quando eu quiser ver televisão não tens muita hipótese!”. Ele só me respondeu que a televisão era de quem chegasse primeiro, ao que tacitamente aceitei o acordo.
Como já disse, o L. não é a pessoa mais romântica do mundo... quer dizer, tem dias! Mas, diariamente, tem as suas saídas engraçadas, que me deixam sem reação e pior que isso, sem palavras.
Um dia destes, íamos a andar de carro, calados, e ia a passar a música da Carolina Deslandes "A Vida Toda" e, nesse mesmo dia, tínhamos estado a ver no canal Hollywood o filme "Diário da Nossa Paixão", que deve ser a única comédia romântica que ele gosta e que já deve ter visto um número infinito de vezes, ao que ele diz: "Olha, esta era uma música que encaixava perfeitamente naquele filme!". Olhei para ele e respondi-lhe "Acho que esta música encaixa perfeitamente bem em qualquer história de amor feliz!". A música é linda e adoro-a desde que foi lançada. Acrescentei, ainda, só para me meter um bocadinho com ele "Espero que encaixe muito bem na nossa também, não é?", ao que ele se ri, sorrateiramente, percebeu perfeitamente que me estava a meter com ele, e responde-me "Acho que sim, porque não?". Mas, disse-me aquilo com um tom de voz tão firme que me arrepiou o corpo e olhou para mim de lado para ver a minha reação. Só lhe consegui responder "Acredito que sim também!".
Só senti a mãozinha dele a pousar em cima da minha perna, como de resto faz sempre, mas naquele momento foi especial porque, apesar de acreditar todos os dias, ali fez-me acreditar ainda mais.
Tal como em 2017 desejo, acima de tudo, que 2018 traga muito amor a este mundo, porque o amor resolve tudo!
Então, que 2018 traga, sobretudo, amor e paz! Que nos faça acreditar no amor, nos abraços, nos beijos e nos sentimentos bons e positivos.
Acredito muito que sim, que 2018 vai trazer isso e muito mais ao coração de todos!
Por isso e por muito mais, porque sou sempre a mesma lamecinhas nesta altura do ano, um bom ano 2018 a todos que andam por estes lados. Aos que conheço, aos que não conheço mas, principalmente, às pessoas que me leêm. Continuamos a encontrarmo-nos por aqui, espero que mais. Enquanto fizer sentido cá estarei, por pouco que seja.