Amor canino
Antes de mais, sim, eu tenho duas cadelas dentro de casa, que dormem comigo, na minha cama, e com o resto da família, é escolha delas. Uns dias dormem comigo, outros dias dormem com os meus pais, outros com a minha irmã. E, depois a vantagem, é que como são duas, às vezes dividem-se (ou não, é muito raro vá!). A mais nova, a mais mimalha e com mais necessidade de chamar a atenção, anda sempre atrás da mais velha. E, elucido-vos porque é normal não saberem, a Indie tem 2 anos, apesar de ser a maior de tamanho, e a Barbie vai a caminho dos 8/9 anos, não tenho a certeza. São muito bem tratadas, aliás são da família, já contei várias vezes a história delas por aqui e o amor que tenho por cada uma.
A Barbie, a minha Barbie, surgiu nas nossas vidas quando nada se passava na minha família. Éramos, simplesmente, quatro adultos dentro de uma casa, onde cada um se enfiava nos seus cantos, a fazer o que gostávamos, e pouco mais. Não havia grande alegria e a Barbie veio ocupar esse grande espacinho. Não sabíamos que tínhamos tanto amor para dar e para receber, porque ter um animal de estimação é mesmo isso, é receber e dar amor todos os dias, mesmo quando eles só fazem asneira e quando só querem atenção e mimo. Foi dada por uma amiga e ainda me lembro daquele pontinho preto dentro de uma caixa de cartão com buraquinhos para respirar. Era do tamanho da minha mão, não subia escadas, mas saltava e chorava imenso. Lembro-me, perfeitamente, de na primeira noite que passou connosco, devia ter um mês e meio, fiquei com tanta pena de a deixar sozinha, que a levei comigo para o meu quarto, às escondidas dos meus pais, e de manhã, antes de todos acordarem voltei a coloca-la no sitio dela. Mal eu reparei no estado que tinha ficado o meu quarto. Mas o hábito de ter uma ratinha coladinha a mim, a aquecer-me durante a noite, tornou-se tão grande, que mesmo quando já não chorava por estar sozinha, levava-a sempre para a minha beira. E, rapidamente, tornou-se a minha melhor companhia. Quando demos por ela, ela já ficava sozinha pela casa durante todo o dia, sem fazer asneiras, nem roer cuecas nem meias, sem fazer chichi, nem cocó. Sempre que chegávamos a casa, lá estava ela na cama do quarto da frente, a ver-nos da janela que, carinhosamente, deixávamos sempre as persianas abertas, a ladrar e a abanar a cauda, para nos ir receber à porta, fosse quem fosse. E habituámo-nos a ser recebidos assim sempre que entravamos em casa.
A Barbie foi filha única durante 6 anos e quando decidimos ficar com a Indie, na altura Lolita, foi para serem a melhor amiga uma da outra e terem companhia. Não pensava em ter mais nenhum bicho em casa, mas quando vi as primeiras fotos da Indie, em tamanho miniatura, ela tinha as cores dos pandas e parecia o meu primeiro cão, o índio (sim, daí o nome!), e não conseguimos resistir. Lá a trouxemos, com a promessa que seria de tamanho pequeno/médio, mas que desconheciam o pai da cria. Como a mãe não era muito grande, acreditamos e bem. Mas, a Indie em pouco menos de 5 meses ficou um vitelo, enorme, pesada e pastelona, que só come e dorme, e quanto mais comer, melhor. Ao contrário da Barbie, que é mais arisca e mais esperta, meiguinha para os de casa, mas que ninguém lhe meta a mão fora de casa, a Indie é a cadela mais meiguinha que conheço, com medo de tudo e todos, com qualquer barulho se esconde, assume sempre os erros antes de alguém lhe ralhar ou de até ver a asneira. Adora ocupar o sofá e a cama toda, dormir de perna ao léu e de dormir em cima de mim, de forma a eu cair ao chão, ou de não me conseguir mexer toda a noite. Para a tirar do sitio onde se deita é preciso arrastá-la e, ainda assim, com muita força. E é uma cadela burrinha, a inteligência dela não dá para muito, ladra para o ar, corre atrás de moscas e gatos que nunca existiram, e vem sempre que a chamam, mesmo quando lhe estamos a ralhar.
São a nossa melhor companhia, sempre bem tratadas, porque se não fossem era impossível mantê-las dentro de casa e era impossível manter a casa minimamente apresentável e, acreditem ou não, a casa está sempre apresentável ao público e a quem cá entre. Aspiramos a casa as vezes que forem necessárias e criamos regras e territórios, elas sabem perfeitamente que o espaço delas é o escritório e não fogem muito dali. Temos a sorte de ter terraço, que também é o espaço delas, apesar de todos os dias irem passear.
Ter animais de estimação é ter melhores amigos para a vida e, muito melhor que amigos, porque nunca nos largam. Cada uma à sua maneira, são as minhas melhores amigas.
A Barbie em força chouriço espalmado.
É fácil entender o nome da Indie: ela tem 3 cores, como o Indio, o meu primeiro cão, tinha: preto, branco e castanho.