Passamos o primeiro trimestre e agora?
Apesar de não ter sido uma gravidez planeada, quando descobrimos tentamos controlar os ânimos, acho que nem soubemos gerir muito bem as emoções, por um lado o choque, por outro a alegria, foi difícil gerir os primeiros dias. Estávamos os dois de férias, tínhamos tirado aquela semana estrategicamente para nós e os planos saíram-nos furados, por muito que não quiséssemos falar sempre no mesmo, a conversa ia sempre parar a um ser que crescia dentro de mim.
Sobrevivemos aos primeiros meses, com um segredo muito bem escondidinho e preparado para a noite de Natal. Fizemos a 1º ecografia, ouvimos o coração a bater pela primeira vez (um bocadinho diferente daquilo que estava à espera, sou sincera). Umas semanas depois descobrimos que vamos ter um menino e decidimos como se vai chamar, depois de alguma birras. Os enjoos continuaram muito ao de leve, quase sempre de manhã, a obstipação sempre presente (nome simpático fofinho para o meu principal sintoma da gravidez e que tantas dores de cabeça me tem dado, já me levou três vezes às urgências).
A ficha começou a cair quando contamos à família e aos amigos, no trabalho, quando já se começa a ver uma barriguinha a querer ser a personagem principal de uma foto ou simplesmente do meu dia.
As principais dificuldades até agora, não é difícil de perceber quais foram e estão a ser:
- Obstipação (pelo que percebi é comum, tal como os enjoos, que por aqui foram muito tranquilos), para quem nunca sofreu de nada disto, há dias que são aflitivos. Já me levou 3 vezes às urgências, dado o desespero e, além de um medicamento que me aconselharam, os conselhos são sempre: exercício físico equilibrado, beber muito água, caminhar muito, ter uma alimentação equilibrada e saudável e controlar a ansiedade;
- Planear o futuro, há muitos anos que deixei de planear muito o futuro, com sorte planeio o dia de amanhã porque tenho um horário a cumprir, preciso de levar uma garrafa de água, preparar a lancheira e essas coisas, mas nunca passa muito disto. Ora, com um bebé a chegar é preciso planear algumas coisas, alinharmos outras, falarmos muito sobre o assunto, começarmos a pensar no carrinho, ovinho, berço/next-to-me, enxoval e essas coisas todas. Admito, estou meia perdida nisso, quando descobrimos estávamos a meio do processo de compra de casa, que, entretanto, está super atrasado, o apartamento onde estamos não tem condições para sermos 3, não tenho espaço para guardar nada, é impensável pensar em comprar o que quer que seja e trazer para aqui. Depois, são nomes e nomes diferentes, até há uns dias não sabia distinguir o ovinho da alcofa, ou um bodie de um fofo. Seguia algumas páginas por pura curiosidade, comecei a procurar mais informação, temos feito alguns workshops de alguns temas que nos interessam e que gostamos de aprofundar.
- Outra das maiores dificuldades é os mitos e os palpites, já não era a melhor pessoa para palpites, quanto mais agora. Andamos semanas a implorar à família “Não comprem muita coisa sem nos perguntar, temos as coisas da nossa afilhada, eu não quero ter coisas em exagero porque não há necessidade, deixem-me fazer uma lista e sigam-se por essa lista. Além de que o bichinho nasce no Verão, as roupas certamente não serão iguais a um bebé que nasce em janeiro ou fevereiro, deixem-nos organizar tudo primeiro, antes de ficarmos atolados de coisas que não vamos usar!” Não adiantou de muito, um oferece isto, e o outro achou aquilo muito fofinho, e não tem mal nenhum, nós adoramos. Fiz a lista e comecei a riscar o que nos iam dando, e sempre que posso sublinho “Já chega para os primeiros meses, agora ofereceram para os meses a seguir sim? Os bebés crescem e para os meses a seguir também dá um jeitaço!” O pessoal lá se vai organizando, avós, tios, amigos e ninguém fica chateado por nos querermos organizar assim, pelo contrário. Mas precisei de me impor várias vezes e frisar bem “É um bebé de verão, não é um bebé de inverno, deixem-me perguntar à enfermeira que roupa é aconselhável usar, certamente que não vou usar 3 camadas de roupa polares mais uma manta polar!”. Ouvi algumas coisas desagradáveis, sou sincera, mas também as devolvi, porque as hormonas já não ajudam muito. Isso e dizermos “Ah, andamos a ponderar usar fraldas reutilizáveis, gostávamos de experimentar e saber se nos adaptamos”. Ao que toda a gente olha de lado para nós como se fossemos ET’S, e eu ripostei “Não somos ETS e caso seja a decisão transmitiremos a dinâmica para que estejam todos à vontade com isso”.
- A maior dificuldade mesmo foi toda a situação pandémica que vivemos, e esta vaga começou a aproximar-se muito do nosso círculo de convívio, inclusive do meu trabalho, e apanhou-nos há uma semana. E é assustador! Confesso que ainda estou assustada, marquei consulta para o 1º dia de liberdade para ficar mais descansada, mas todo o isolamento foi uma explosão de ansiedade, difícil de controlar e ainda não acabou.
Desculpem o desabafo, sinto que passou muito rápido, estamos quase no 3º trimestre e parece que foi ontem que descobrimos.
(a imagem foi retirado do pinterest)