Não sei explicar porque é que nunca me lembrei de escrever este post antes, quando era miúda adorava contar estas histórias a meio mundo e, bem, era sempre a risota porque nunca ninguém se acreditava em mim, achavam que era completamente inconcebível, mas hoje, sexta-feira 13, tinha de partilhar alguns dos meus maiores azares em criança.
Sempre fui uma criança muito traquina, não sabia estar quieta no meu lugar, brincava com tudo e com todos e, agora que penso nisso, fui mesmo uma criança muito feliz. Os meus pais deixaram-me ser, tanto a mim com à minha irmã mais nova, muito sonhadoras e brincalhonas também. Os tempos eram outros e os meus pais nunca foram de nos dar todos os brinquedos, apesar de ter tido muitos brinquedos e muitos jogos, o que nos davam implicava sempre a nossa imaginação e isso criou em mim uma espécie de submundo, como se vivesse noutro planeta, acho sinceramente que é uma coisa que falta muito às crianças de hoje, a possibilidade de sonharem e de brincarem com o nada, ou de terem de inventar brincadeiras para se divertirem. Isso fez de mim quer uma criança muito feliz como muito sonhadora. Ao longo da minha infância sonhei ser tudo, quis ser veterinária, professora, cabeleireira, juíza, educadora de infância, quis ser tudo basicamente. Se me fizessem essa pergunta todos os dias, todos os dias teriam uma resposta diferente, porque a minha imaginação falava por mim.
Derivado dessa imaginação e dos sonhos que criava deu muitas dores de cabeça aos meus pais quando era pequena, ao contrário da minha irmã que sempre foi mais calma e mais reservada.
Quando era pequena adorava ir às compras com os meus pais. Normalmente íamos sempre ao hipermercado ao sábado de manhã e à tarde eles levavam-me ao parque. Num desses sábados que sabia que íamos às compras, e eu precisava de uma escova dos dentes nova, ou seja motivo de completa excitação para uma criança, os meus pais foram em primeiro para o carro, para o tirar da garagem. As escadas da minha primeira casa eram em forma de caracol e no fim das escadas tinha um pequeno tubo por onde passava água, por qualquer motivo que desconheço. Quando ouvi o carro a ligar pensei que os meus pais iam sem mim e que ficava em casa de castigo sozinha, então desci as escadas quase a voar, nunca mais pensei no tubo que atravessava o fim das escadas. Resultado da história, tropecei por cima do tubo e caí de cara no chão. Fiquei toda magoada, mas a minha cara ficou mesmo em mau estado. Já não fomos às compras, fomos diretos ao hospital, conclusão da história.
Logo aos 5 anos de idade, numa ida ao S. João, na nossa cidade (Vila do Conde tem um S. João maravilhoso digo já!), os meus pais deixaram-me ter um martelo com um apito. Que maravilha, eu adorava os martelos com apitos! Mas naquele dia o azar falou por mim! Sempre fui trapalhona, desde que me lembro, e ia a correr com o martelo nas mãos, um bocadinho mais à frente dos meus, quando tropecei nos meus próprios pés (quem nunca?) e enfiei o martelo dentro da minha boca, a parte do apito já agora! Não quero causar imagens perturbadoras em vocês porque a história teve um final feliz. Fui operada de urgência naquele mesmo dia e os médicos conseguirem salvar o meu céu da boca, mas fiquei com uma cicatriz gigante, que não me faz confusão nenhuma porque não se vê, nem me deixou sequelas graves na fala. Mas os meus pais apanharam o susto da vida deles, a minha mãe conta-me que naquele dia vestia um casaco muito bonito cor-de-rosa claro que ficou vermelho, ficou cheio de sangue. A história agora tem piada, na altura não teve logicamente.
Uns anos mais à frente, tinha eu os meus 8/9 anos, não me lembro precisamente, no magusto, andava a brincar com os meus amigos e na altura faziam-se fogueiras nos recreios da escola (não sei se ainda se faz, mas creio que não!) e no meio da brincadeira entrou-me uma faúlha para dentro de um olho. No momento não dei conta do sucedido, mas passado umas horas quando cheguei a cara, o meu olho estava assustador. A minha mãe quando chegou a casa levou-me logo ao hospital e tinha queimado não-sei-o-quê do olho, mas nada grave porque conseguiram retirar a tempo. Não sei se foi desde essa altura, mas passado uns tempinhos comecei a ver mesmo muito mal, uso óculos desde os 10 anos. Os médicos disseram à minha mãe que foi uma sorte não ter ficado cega daquele olho. Mais um susto!
No meio de mais não-sei-quantas histórias que podia contar e das tantas vezes que os meus correram comigo para o hospital a mais grave foi quando parti a cabeça. Nunca parti nenhum membro do corpo, só a cabeça, grave! A casa onde moro hoje estava em construção e na primeira visita que fizemos a casa estava toda em cimento ainda, e o poço também. Na altura devia-me achar alguma animal saltitão e juntamente com a minha irmã decidi saltar um dos poços de um lado ao outro. Não correu muito bem porque não cheguei ao outro lado e fiquei pelo caminho a escorregar sangue da cabeça. Levei 13 ou 14 pontos e a minha mãe quase morria de ataque cardíaco.
Podia contar mais mil histórias porque, como disse, sempre dei algumas dores de cabeça aos meus pais, ao contrário da minha irmã. Hoje rimo-nos destas histórias, na altura não foram muito engraçadas porque até os médicos no hospital já nos conheciam.
No fim, sei que fui uma criança muito feliz, que os meus pais sempre me deixaram sonhar, antes me tivessem deixado sonhar menos, porque às vezes chegamos à conclusão que tanto eu como a minha irmã crescemos numa espécie de bolha, a leste do mundo real. Mas também acho que as crianças precisam sonhar e brincar, precisam inventar e imaginar. Acho que isso é fundamental para uma criança e tem-se perdido ao longo dos anos o que é triste.
Mais histórias de infância por aí? Acho delicioso quando se fala em brincadeiras de infância e histórias engraçadas que aconteceram a todos.
Bem... venho falar-vos um bocadinho do projeto em que estou envolvida, o qual falei ontem e as razões pelas quais decidi aceitá-lo sem pensar duas vezes! Sei que há muitas causas, que há muitas instituições, que há muitas associações, e que muitas delas são enganosas, que se aproveitam de causas e de lutas como esta para se aproveitarem da boa vontade das pessoas e obterem fins lucrativos. Isso revolta-me, porque acho que se toda a nossa sociedade trabalhasse em equipa, conseguíamos mais e muito melhor!
As aldeias de crianças s.o.s estão em portugal desde 1964, foi neste ano que foram aprovados os estatutos desta associação, sendo que a primeira aldeia foi inaugurada em 1967, em Bicesse (Cascais). Neste momento, existem três aldeias de acolhimento em Portugal, uma Gulpilhares (Gaia), em Bicesse (Cascais) e, a última, em Guarda. De uma maneira muito sucinta vou explicar o que se faz nestas aldeias de acolhimento, qual a sua missão e, como se pode lá chegar. As aldeias de crianças s.o.s estão, neste momento, em mais de 134 países e, já foram nomeadas 14 vezes para o Prémio Nobel da Paz e, o principal objetivo, é oferecer a estas crianças a possibilidade de crescerem num ambiente familiar, rodeadas de amor e, de carinho, como todas as crianças o merecem. Cada criança pertence a uma familia e merece respeito, amor e segurança!
O que é que as aldeias fazem de diferente das restantes associações que conhecemos? As aldeias e, agora falo apenas em Portugal, porque cada país tem objetivos diferentes, consoante as suas necessidades sociais, acolhem crianças retiradas ás familias , por razões de violência, de maus-tratos (fisicos e psicológicos), por serem orfãs e, coloca-as numa aldeia. A finalidade é acompanhar e proteger as crianças e jovens que se encontram em situação vulnerável, com o objetivo de promover o seu pleno desenvolvimento e autonomia, através do acolhimento, prevenção e do fortalecimento das suas redes familiares e sociais. Atuar junto de crianças que perderam os cuidados parentais ou em risco de os perder. As aldeias oferecem uma oportunidade à criança de poder crescer numa familia, com irmãos e com pais s.o.s. O que diferencia as aldeias? No meu ver o que diferencia (e muito!) as aldeias s.o.s das restantes instituições são principalmente três fatores, além de muitos outros, que poderia estar agora aqui a falar:
As mães s.o.s - perguntam-me vocês o que é isso e, eu passo a explicar. Se a finalidade é oferecer uma familia à criança, essa ideia passa também por a criança ter uma mãe, uma verdadeira mãe, uma verdadeira figura maternal! Com ela, a criança partilha alegrias, experiências, preocupações, angústias e sonhos. A sua entrega é incondicional.A Mãe SOS dedica a sua vida a crianças que não são suas, mas a quem deseja o melhor que a vida tem para dar. Dá colo, educa, mima e aceita as crianças como elas são, dando-lhes a segurança, a estabilidade e o carinho que tanto precisam. As Mães SOS são o núcleo fundamental das nossas famílias e contam com a ajuda de Educadores, Psicólogos, Assistentes Sociais e “Tios”, que ajudam ao desenvolvimento pleno de cada criança. Existem aldeias que têm mãe e pai s.o.s, mas torna-se muito mais complicado ser assim, porque se o processo de recrutamento para mães s.o.s já não é fácil, quanto mais para um casal s.o.s.
Os irmãos - Nas Aldeias de Crianças SOS não se separam irmãos biológicos. Nas nossas casas, temos fratrias de dois, três ou mais irmãos, que vêm juntos de uma situação familiar difícil e aqui encontram uma nova família.O vínculo que existe entre os irmãos é único e natural. Sabemos que na grande parte das instituições não é assim, e este para mim é o grande diferenciador! Desde inicio, desde que ouvi falar das aldeias, que este pequeno ponto, ganhou todo o meu respeito!
Por último, mas não menos importante, a idade miníma obrigatória para sair da aldeia - nenhum jovem tem uma idade miníma para sair da aldeia. Cada criança/jovem tem um plano individualizado de desenvolvimento e, muitos vão para a faculdade e, muitos outros começam à procura do primeiro trabalho, mas não é o facto de terem 16, 18, 21 anos que implica que saiam de perto da sua familia e, se deparem com a vida sozinhos!
Este é um projeto diferente para mim, é dificil sensibilizar as pessoas para uma causa, mas quando é possível sabe melhor! Quando estamos a defender causas como esta, e vemos com os nossos próprios olhos que é possível, sentimo-nos seguros daquilo que estamos a defender, e que não estamos a defender mais uma. Espero muito que leiam com atenção e, que se nos encontrarem por aí na rua e, tiverem possibilidades claro, peço apenas para ouvirem, e ouvirem com o coração!
Deixo apenas um video para que possam ver com os próprios olhos daquilo que falo, porque já vi este video algumas vezes e emociono-me sempre:
Num café. Dois pais. Uma criança de 6 anos no máximo. Uma filha. Uma criança completamente feliz, uma criança completamente saudável. Chamou pai aos dois. Sem qualquer confusão. Com a alegria contagiante e própria de uma criança, de poder estar a almoçar com os pais e de o pai lhe dar um gelado no fim, porque ela se portou bem.
Sabem que mais? Sem querer abrir ou dar aso a discussões, preconceito é o que gere a nossa sociedade.
Quero ser daquelas tias que oferece sempre livros. A criança ainda só tem dois meses e meio e já tem dois livros na estante. Um é "A Alice no País das Maravilhas" e o outro é do Winnie The Poo para condizer com a decoração do quarto. E foram oferecidos por mim e pelo L. Ele escolheu o segundo porque gosta muito das histórias do Winnie.
Claro está... a minha parte da prenda vai ser sempre um livro e ele trata do resto.