Escrever e falar bem Português
(esta imagem foi retirada daqui)
Decidi abordar este assunto devido a algumas asneiradas e calinadas que vejo pelas redes sociais, muitas vezes escritas por pessoas que têm mais do que a obrigação de saber escrever e falar português, pela influência que têm nas redes sociais, mas não só, porque induzem os outros em erro como se fosse uma coisa normalíssima, que deve ser aceite pela sociedade, que não deve ser criticada. Não sabem a diferença entre o há e o à, mas qual é o problema? Fazem-no como se não houvesse qualquer problema, e reagem mal a correções, como se quem corrige é que estivesse a agir mal. Não entendo isso, juro que já o tentei fazer, mas não consigo.
Falo muitas vezes disto com as pessoas que me são mais próximas, que ninguém está isento de escrever com erros, ou de não saber escrever uma ou outra palavra, de ter dúvidas, às vezes coisas básicas, como o exemplo do há e do à. Acredito que seja normal, pela diversidade de coisas que lemos, umas com erros, outras sem erros. Alguns erros tornam-se comuns e as pessoas interiorizam isso como se estivesse correto daquela forma. Já me aconteceu, continua-me a acontecer, e vai sempre acontecer. A minha mãe é professora primária há muitos anos e conta, muitas vezes, que lhe dão brancas e bloqueios, que tem de pedir ajuda ou de perguntar a algum colega como se escreve determinada palavra. O que acho perfeitamente plausível, derivado dos tantos erros que lhes passam pela frente todos os dias. Umas vezes rimo-nos, mas ela conta que não é a única, que acontece com todos, e que até brincam uns com os outros, mas que é normal.
A diferença está na humildade, na vontade de aprender e aceitar ser corrigido. Tenho algumas histórias engraçadas, uma delas um bocadinho chocante, até para mim. Sempre gostei muito de escrever, a minha disciplina favorita na escola sempre foi português e história e adorava, sobretudo, aprender a gramática. Entretanto, todos os conceitos de gramática foram alterados e, inclusive, entrou em vigor o novo acordo ortográfico, que tanto me fez confusão e continua a fazer, mas já me adaptei. Já andava na faculdade, estava no meu 3.º ou 4.º ano de licenciatura, não me lembro com precisão, mas lembro-me que foi num trabalho escrito de Processo Civil. No momento de saber as notas daquele trabalho, fiquei muito indignada com a minha, porque achei que o meu trabalho correspondia a uma avaliação superior, e fui falar com o docente no fim da aula. Ao que o Professor me chamou à atenção e eu fiquei estupefacta, porque todos os “há” e “à” que tinha escrito ao longo do trabalho estavam errados, aliás os assentos estavam errados também, e isso foi um dos motivos para a minha avaliação ser tão baixa. Na minha humildade, pedi desculpa e prometi que ia informar-me, porque tinha perfeita consciência que tal não se devia aceitar de um aluno no ensino superior. Naquele mesmo dia, cheguei a casa e pedi ajuda à minha mãe, que é professora primária e disse-lhe “Mãe, eu já não sei a diferença entre o há e o à, mas eu acho que a culpa não é minha, porque vejo imensas vezes mal escrito, e deixei de saber a diferença!”. Perdi imenso tempo com aquilo, até me sentir confiante que sabia a diferença e que podia escrever segura do que estava a fazer.
A verdade é que a partir dali passei a estar mais atenta à informação que consumia e consumo, aliás, àquilo que lia e de quem, para ter a certeza de que não voltaria a acontecer nenhuma situação semelhante, porque sou muito da opinião de que se queremos falar, opinar sobre o que quer que seja, hà que saber fazê-lo bem e nos termos corretos, e se porventura não sabemos, temos de saber contornar a situação e procurar aprender. Para isso, muitas vezes, temos de saber ser corrigidos e chamados à atenção, nem sempre é fácil, acredito que não, mas sei que é pelo melhor.
Acredito, também, que a leitura faz falta a muita gente, crianças e adultos, e tenho muita pena que a leitura não esteja enraizada na sociedade portuguesa, porque é a forma mais fácil e bonita de aprendermos a escrever, a falar, de termos vocabulários, além de todas as outras vantagens que a leitura e os livros nos trazem.
Acredito mais ainda que onde quer que vamos fica bem sabermos falar e sabermos escrever bem português. No currículo, numa exposição qualquer, num blog, nas redes sociais, e por aí fora. Acho que devia ser a prioridade, e se porventura temos dúvidas, como já me aconteceu e sei que acontece, devemos pedir ajuda ou procurar ajuda credível. Isso é o primeiro passo, e para mim, o mais importante, se é a nossa língua temos de saber escrever e falá-la bem.
Posso não ser a melhor pessoa para falar disto, acredito piamente que não, mas tinha de falar disto. Se calhar neste post, ou noutros espalhados pelo blog, principalmente nos mais antigos, está o básico ‘há’ e á’, o que condeno e todos os dias tento melhorar, mas pelo menos a mensagem está aqui, e já queria falar disto há muito tempo, achei que era importante agora, mas é importante sempre.