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Coisas (des)Interessantes

Coisas (des)Interessantes

23
Mai18

Senso comum

mudadelinha

Há uma coisa que a nossa sociedade devia aprender melhor e que há muito digo que faz muita falta: o senso comum ou o civismo. Não é bem a mesma coisa, mas tanto um como o outro fazem falta. Fala-se muito de senso comum sem se saber concretamente o que é, e eu também não tenho todas as noções de senso comum certamente, mas vou aprendendo e vou observando, para saber ser e saber estar. E prende-se muito com a nossa forma de ver e estar na vida.

Há uma coisa que tenho aprendido ao longo dos anos e que muitas vezes me faz uma confusão tremenda os outros não o saberem, ou não o respeitarem minimamente. A pessoa que está há minha frente ou do outro lado da linha, a atender-me, a esclarecer-me dúvidas, a prestar-me qualquer tipo de serviço, tem uma história, tem problemas, tem uma família, tem filhos muito provavelmente, tem amigos, e pode não estar num dia bom, ou até pode estar num dia muito bom, e quem sou eu para a rebaixar ou humilhar, para não a respeitar? Faz-me confusão as pessoas esquecerem-se disto, que me parece ser tão essencial no nosso dia-a-dia. Todos os dias penso nisto, e mesmo quando não estou no meu melhor dia, e me apetece gritar, discutir, disparar para todos os lados por qualquer razão, lembro-me “O empregado do café que demorou meia hora a atender-me tem uma história”. Pode parecer muito simpático, muito feliz, ou o contrário, mas tem uma história, e merece ser respeitado. E quando falo disto falo porque sofremos todos do mesmo, ou porque não respeitamos quem está do outro lado, ou porque não nos respeitam no nosso posto, na nossa profissão.

Podia falar de muitos conceitos, um deles é logo o respeito, mas já nem vou por aí. Falo mesmo do bom senso, do civismo. E falo disto porque preciso desabafar neste sentido, porque há poucos dias vivi alguns episódios menos felizes, que me fizeram refletir muito sobre estas questões, um pouco existenciais. Na minha turma da ordem não fiz amizades com quase ninguém, quer dizer também não fui para lá para fazer amigos, muito pelo contrário, fui para lá para ter aulas, para aprender e para estudar. Isso não implica que não mantenha a cordialidade e o respeito, e que não tenha falado com colegas de outras faculdades, que não conhecia, que até fossemos simpáticos uns com os outros. Uma das minhas colegas decidiu implicar comigo, por qualquer razão que me é alheia e dessa implicação surgiu um ambiente bastante desagradável entre alguns colegas, principalmente porque estamos muito próximas na sala (elas estão na fila à minha frente, e as outras estão na fila atrás). Toda esta situação fez-me questionar muita coisa e eu não posso exigir que os outros conheçam a minha história, ou que saibam que eu estou num dia mau, ou triste, ou que os problemas que trago de caso não são os melhores. Não sou de arranjar problemas, e tento sempre manter-me calma, por muito que a minha vontade seja explodir e dar-lhe dois ou três recados menos simpáticos. Mas, será que os merece? Não fui eu que invadi o espaço dela com coisas que não merecem importância. Vai muito da minha forma de estar, ou da forma como aprendi a fazê-lo, mas mantive-me no meu sitio e tomei a minha posição, simplesmente deixei de falar, porque são pessoas que não me acrescentam rigorosamente nada, que mal as conheço e que me passam completamente ao lado.

Quase todos os dias as pessoas esquecem-se que todos temos uma história, que pode parecer que está tudo bem e que somos os seres mais felizes à face da terra, mas não é assim, e devíamos aprender a respeitar isso, é a minha conclusão.

15
Mai18

O meu primeiro trabalho

mudadelinha

Comecei a trabalhar quando estava a terminar o 11º ano com o objetivo de pagar a minha carta de condução no ano seguinte. Na época andava à procura de um part-time e surgiu-me a oportunidade de ir trabalhar para um bar de praia, essencialmente conhecido pelas suas noites de quarta e sexta-feira, no horário da noite, porque estavam à procura de alguém para fazer esse horário, das 16h até ao horário do fecho, sem folgas, porque durante o verão não fechavam o bar nenhum dia. Bem, para quem trabalha ou já trabalhou em hotelaria e restauração, sabe que quando se fala em horário de fecho é basicamente dizer que não há hora de fechar, mas eu não sabia disso. Como estava em época de exames nacionais, tinha o exame de geografia A e de MACS para fazer, prometeram que me davam aquela semana para estudar e para ficar em casa, e assim foi. Os meus pais foram comigo à entrevista (ou qualquer parecido com uma entrevista) e apesar de relutantes lá aceitaram a ideia, ficaram de me ir levar e buscar todos os dias porque eu não tinha carta de condução.

Começou assim o meu primeiro trabalho. Comecei em finais de Junho e, supostamente, seria até inícios de setembro, sem qualquer promessa de continuar, porque depois disso não seria preciso. Naquele verão conheci pessoas incríveis, fiz amigos, e o ambiente entre funcionários era realmente muito bom, se não era, eu era tão menina que nem me apercebia disso, eu era tão tímida e tão reservada que mal falava, mal pedia para ir à casa de banho. As minhas funções eram, essencialmente, lavar loiça e servir ao balcão, e assim fazia. Os patrões também eram minimamente simpáticos e sérios, e gostei imenso daquele verão. No final do verão colocaram-me em cima da mesa ficar lá durante os fins-de-semana, nos primeiros tempos só ao sábado, e quando começasse a chegar a época de verão novamente faria os sábados e os domingos, e assim foi, às vezes também ia à sexta, mas foi muito raro.

Trabalhei neste bar de praia aproximadamente 9 anos, saí o ano passado, e já falei dele diversas aqui, inclusive o motivo da minha saída. Durante o ano trabalhava aos fins-de-semana e quando chegava a altura do verão fazia lá os 2/3 meses de verão, dependendo de quando terminavam os meus exames na faculdade. Nos entretantos, os donos desse bar ficaram com o bar ao lado que estava à venda, e mais tarde o bar original mudou de gerência, e eles ficaram só com o segundo, e quase todos os funcionários passaram para esse bar, com algumas exceções.

Ao longo destes quase 9 anos aprendi muita coisa com o meu primeiro trabalho de verão, algumas boas, outras nem por isso, mas cresci imenso e agradeço muitas vezes ter aprendido algumas coisas. Ao longo destes 9 anos, aquele sitio viu-me terminar o ensino secundário, com a média que tanto queria, viu-me conseguir entrar na faculdade e a alegria que foi ter entrado no curso que queria, apesar de ter sido numa faculdade privada, foi um momento feliz. Aquele sitio, onde eu entrei com uma relação, na altura de dois anos, viu os momentos bons e maus dessa relação, apesar de nunca ter mostrado muito e de reservar muitos esses momentos, fiz amigos e esses mesmos amigos e colegas de trabalho acompanharam muito esses momentos. Nesse sitio fiz amigos, não muitos que leve para toda a vida, mas alguns que sei que passe o tempo que passar, estarão sempre lá para celebrar as minhas vitórias, e chorar comigo os meus fracassos. Nos últimos anos passei para o horário da manhã e as funções alteraram-se um bocadinho também, passei a ser empregada de mesa e de balcão (sempre que era necessário!) e adorava ser empregada de meses porque adorava o contacto direto com o público, apesar de não ser nada fácil, bem pelo contrário e das dores de cabeça que nos dão.

Aprendi que há pessoas boas e há pessoas más, que há pessoas falsas e que temos de aprender a analisa-las e observa-las, por mais que pareça difícil, para não cairmos no erro e na tentação. Aprendi que às vezes devemos estar calados e só observar, que mais vale não reclamarmos e não resmungarmos, porque é só uma mais valia e se o fizermos sairemos prejudicados. Estas são lições que levo para a vida toda e para qualquer emprego que vá ter. Aprendi que as amizades devem ser estabelecidas fora do trabalho e que os amigos, grande parte das vezes, são as pessoas com quem mais discutimos a trabalhar, mas que isso não implica não gostarmos da pessoa, bem pelo contrário. Aprendi que amizades são amizades e trabalho é trabalho, e que não devemos misturar as duas.

Quando faço uma análise de todo este percurso apercebo-me que fui muito feliz, que tive momentos menos bons, mas que sempre que penso naquele sitio que me lembro sempre dos momentos bons, e que o primeiro trabalho, apesar de em nada ser relacionado com a minha área ou com o que me vejo a fazer futuramente, me trouxe muitas lições e me fez crescer muito enquanto pessoa e profissional. Mostrou-me um bocadinho daquilo que é o mundo do trabalho, ainda assim acho aquilo não é nada, comparativamente ao que vejo por aí, mas ainda assim preparou-me para essa triste realidade da arrogância, da falta de humildade, da prepotência e antipatia, da falsidade e da concorrência.

No fim sei que o melhor que trouxe daqueles tempos e daquele sitio foi o L., muito possivelmente se lá não trabalhasse não me teria apaixonado por ele. Conhecer tê-lo-ia conhecido, acho eu, mas não teria hipótese de conviver com ele e de ver a excelente pessoa que é. Por isso, só posso trazer recordações boas e uma certa nostalgia também. E os amigos que trouxe, que apesar de poucos são bons e tenho a certeza que me acompanharão durante alguns anos.

 

Por aí, histórias dos primeiros trabalhos/empregos?

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