As saudades
Em tempos de quarentena e isolamento como o que vivemos, as saudades aguçam-se é verdade, mas nunca pensei que fosse capaz de ficar tantos dias em casa, longe de tudo e de todos, e estar a gostar.
Estar longe de casa tem muitas coisas boas, outras más. Há dias muito bons e há dias que nem tanto. A experiência tem sido positiva de uma maneira geral. Adaptei-me bem ao local de trabalho, mas também tenho dias que ainda me sinto perdida, porque falta-me aquela sensação de “casa”. Mas, acho que essa sensação de “estarmos em casa” demora o seu tempo, certo? Não me preocupo muito com isso. É a nossa capacidade de nos adaptarmos a novos sítios, a casas novas, a espaços novos e de fazer deles nossos.
As saudades não são tanto de chegar a casa e ter tudo feito, ou de ter alguém que o faça por mim, bem pelo contrário. Essas são as tarefas que mais me dão gosto. Cozinhar aquilo que gosto, comer o que me apetece, fazer listas daquilo que tenho e daquilo que preciso, ver panfletos dos hipermercados e ver as promoções e onde me compensa mais comprar o quê.
Dou por mim preocupada que tenho de passar a ferro, e tenho de pôr a roupa a lavar ou a secar, caso contrário não tenho calças para vestir. Dou por mim preocupada que tenho de limpar a casa, o chão é claro e parece que está sempre sujo, que tenho de ir levar o lixo para não ficar cheiros, visto que moro num T1, que tem janelas pequenas, mas que tenho de as abrir para a casa receber luz e respirar.
Tenho saudades da companhia, que se suaviza pelas novas tecnologias. Tenho saudades de chegar a casa e ter as minhas cadelas a saltar-me para as pernas, deitar-me na cama e elas virem para a minha beira, ouvi-las pela casa durante a noite. Não posso ter animais na casa onde estou, nem quero para já. À partida, em breve irei mudar de casa, e nessa vou querer um gatinho para me fazer companhia nos dias mais só.
Tenho saudades do L., a sensação de ter um dia mau, e ter quem me confortasse, mas isso também se suaviza pelas novas tecnologias, nos dias mais tristes, tenho saudades do abraço, mas ele está sempre lá. Sempre mesmo.